Vibrio Cholerae
A cólera é uma infecção intestinal aguda
provocada pela ingestão de água ou alimentos contaminados com a bactéria. Geralmente surge em contextos que envolvem
superlotação e acesso inadequado a água limpa e saneamento (coleta de lixo e
banheiros). Os principais sintomas da doença são diarreia intensa e vômitos,
que podem levar à morte por desidratação intensa em questão de horas
se não houver tratamento.
Abluções rituais em água do Rio Ganges são um dos principais fatores da cólera na Índia |
O agente etiológico da cólera,foi isolado
por Koch no Egito e na Índia em 1884, inicialmente denominado de Kommabazilus
(bacilo em forma de vírgula). O biotipo O1 (clássico) foi descrito por Koch e o
El Tor, foi isolado por Gotschlich em 1906, de peregrinos procedentes de Meca, examinados
na estação de quarentena de El Tor, no Egito.
Ambos os biotipos são indistinguíveis
bioquímica e antigenicamente; de igual forma, enquadram-se na espécie Vibrio
cholerae e integram o sorogrupo O1, que apresenta três sorotipos denominados
Ogawa, Inaba e Hikojima. O biótipo El Tor somente foi associado a episódios
graves da doença e aceito como agente etiológico em 1961, exatamente no início
da 7ª pandemia.
Já houve muitos dos chamados
“surtos de cólera” ao longo dos anos, mas o saneamento do esgoto e o tratamento
da água em países industrializados reduziram drasticamente o número de casos da
doença. Registros mostram que o último grande surto de cólera nos Estados
Unidos aconteceu em 1911. Hoje, no entanto, ela ainda está presente em países
da África, do sudeste asiático e em alguns países da América Central.
Distribuição cólera no mundo |
Todos os anos são registrados de três
a cinco milhões de novos casos da doença no mundo de acordo com a OMS. Ainda segundo os dados
levantados pelo órgão, cerca de 100 a 120 mil pessoas morrem anualmente por
causa da cólera. A imagem acima faz referencia á distribuição da doença em diversos locais do mundo.
Num período de
aproximadamente três anos, compreendido entre abril de 1991 e abril de 1994,
o V. cholerae conseguiu adentrar em todas as regiões brasileiras,
sendo o seu maior impacto sentido, devido à grande produção de casos, nas
regiões Norte e Nordeste, com o Sul e Sudeste sendo poupados. Isto não
surpreende, pois, ao mesmo tempo que se sabe que a entrada da cólera não pode
ser impedida, sabe-se também que sua implantação e disseminação podem ser
controladas, onde as condições de saneamento e as condições de vida da
população são melhores.
Esta variação
entre as regiões deve-se, em parte, às condições de saneamento, à densidade
populacional e aos meios de transporte, mas a variação entre os estados, para
cada uma das regiões, deve-se, mais provavelmente, a problemas relacionados ao
diagnóstico e confirmação de casos, como já apontado por outros autores. Reforça
esta hipótese os dados do tipo de atendimento recebido e o critério diagnóstico
adotado. Por razões operacionais a cobertura de swab retal e
cultura para V. cholerae é baixa em geral, sendo maior nos
hospitais localizados em centros urbanos, concentrando o diagnóstico
laboratorial nos hospitais, como mostram os dados. Por outro lado, o critério
clínico-epidemiológico mostrou um valor preditivo positivo de 88% em estudo no
Peru, sendo portanto a alternativa factível para a vigilância epidemiológica no
nosso meio, uma vez constatada a circulação do vibrião. Na maioria das vezes,
os estados com os menores coeficientes de incidência são aqueles que têm as
maiores percentagens de pacientes atendidos ao nível hospitalar e as maiores
taxas de letalidade, o que indica que foram diagnosticados apenas os casos
graves da doença, e também as maiores percentagens de confirmação de casos
através do critério laboratorial, indicando que muitos casos detectados não
foram considerados como cólera.
Causas:
O
responsável por causar a infecção é uma bactéria chamada Vibrio
cholerae. Essa bactéria libera uma toxina chamada CTX, que se liga às
paredes intestinais, onde ela interfere diretamente no fluxo normal de sódio e
cloreto do organismo. Essa alteração faz com que o corpo secrete grandes
quantidades de água, levando à diarreia e a uma rápida perda de fluidos e de
sais importantes, os chamados eletrólitos.
A
transmissão de cólera é fecal-oral e se dá basicamente por meio de água e
alimentos contaminados pelas fezes ou pela manipulação de alimentos por pessoas
infectadas. A infecção pela bactéria costuma acontecer após uma pessoa consumir
água, frutos do mar, frutas e legumes crus e alguns grãos contaminados, como
arroz e milho.
Agente etiológico:
As cerca de 30 espécies incluídas nesse gênero são bastonetes gram-negativos, anaeróbios facultativos, móveis, curvados em forma de vírgula, possuindo de 1,4 a 2,6 micrômetros de comprimento. O V. cholerae tem
baixa tolerância a ácidos, e cresce a um pH de 8.0 a 9.5 (o qual inibe muitas
outras bactérias Gram-negativas). É diferenciado de outros vibriões pelas
suas características metabólicas, pela estrutura do antígeno O, e pela produção
de uma potente endotoxina. As espécies patogênicas se limitam aos sorogrupos
O1 e O139 (encontrado na Ásia) e à variante el tor (encontrada
na América Latina). Esta última variante apresenta uma sobrevida maior na
natureza, e por suas características de patogenia, é capaz de produzir com
maior freqüencia infecções subclínicas --- características que dificultam seu
controle epidemiológico. Outras cepas, designadas como não O1, não O139,
se associam a quadros menos freqüentes, mais brandos e não epidêmicos de
diarréia. A principal característica do V. cholerae é sua
capacidade de produzir uma potente enterotoxina, cujo exato mecanismo de ação é
ainda desconhecido.
Vibrio cholerae em microscópio eletrônico |
Análise clínica:
O crescimento desse
organismo requer meios contendo NaCl. Antes da cultura em meio sólido, um meio
enriquecido, como peptona alcalina, pode ser utilizado para melhorar sua
recuperação. Meios seletivos contendo sucrose --- como o meio tiossulfato,
citrato e sais bileares --- são úteis para o seu cultivo. Nesse
meio, o V. cholerae aparece sob a forma de colônias amarelas.
O teste de susceptibilidade aos antimicrobianos pode ser feito através do
método da difusão em disco em Ágar Mueller-Hinton.
O CLSI padronizou critérios para os antibióticos: ampicilina, tetraciclina,
trimetoprim-sulfametoxazol, cloranfenicol e sulfonamidas.
Cultivo de Vibrio cholerae em ágar TCBS |
Fatores de risco:
Todas as
pessoas são suscetíveis à cólera. Uma vez tendo contraída a doença, você se
torna imune a ela. Por isso, crianças que são filhas de mulheres que já tiveram
cólera herdam a imunidade das mães, geralmente por meio da amamentação.
- A cólera pode surgir em ambientes que não disponham de condições sanitárias e higiênicas adequadas, com ausência de saneamento básico e de abastecimento de água potável, por exemplo. Essas condições são comuns em acampamentos e em outros locais de grande aglomeração humana, como campos de refugiados e em áreas pobres e devastadas pela fome, por guerra ou por desastres naturais.
- A bactéria da cólera não sobrevive em um ambiente com pH muito ácido. Por isso, o ácido produzido pelo estômago muitas vezes serve como um tipo de defesa contra a infecção. No entanto, pessoas com baixos níveis de ácido do estômago - como crianças, idosos e pessoas que tomam antiácidos, não dispõem dessa proteção.
- Uma pessoa tem mais chances de desenvolver cólera se viver no mesmo lugar que uma pessoa infectada.
- Por razões que ainda não são totalmente claras, as pessoas com sangue tipo O são duas vezes mais propensas a desenvolver cólera do que pessoas de outros tipos sanguíneos.
- Embora os surtos de cólera em larga escala não ocorram nos países industrializados, alimentar-se de mariscos oriundos de águas conhecidas por abrigar as bactérias aumenta muito o risco de uma pessoa contrair cólera, assim como em alimentos mau cozidos.
Sintomas:
A maioria
das pessoas expostas à bactéria causadora da cólera não manifesta sintomas e às
vezes nem sabe que está infectada. Esses casos são chamados de assintomáticos.
No entanto, mesmo quem não manifesta os sintomas da doença pode infectar outras
pessoas. Isso acontece porque a pessoa infectada continua excretando bactérias
em suas fezes durante uma a duas semanas.
Primeiros
sintomas:
- Diarreia
- Náuseas e vômitos
A
desidratação em decorrência da perda de líquidos pode levar a outros sintomas:
- Irritabilidade
- Letargia
- Olhos encovados
- Boca seca
- Sede excessiva
- Pele seca e
enrugada
- Pouca
ou nenhuma produção de urina
- Pressão arterial baixa
- Arritmia cardíaca
- Desequilíbrio eletrolítico
- Cãibras musculares
- Choque,
que ocorre quando o volume de sangue baixo provoca queda na pressão
arterial e na quantidade de oxigênio no sangue (se não tratado pode levar uma pessoa a óbito em questão de minutos).
Estes dois últimos provocados devido a perda de eletrólitos no sangue.
Diagnóstico:
Embora os
sinais e sintomas de cólera sejam inconfundíveis em áreas endêmicas, a única
maneira de confirmar o diagnóstico da doença é identificar a bactéria em uma
amostra de fezes.
Testes
rápidos de cólera já estão disponíveis, permitindo que os profissionais de
saúde em áreas remotas possam fazer o diagnóstico precoce de cólera e dar
início o quanto antes ao tratamento.
Tratamento:
Cólera
requer tratamento imediato. Se não for tratada, a doença pode levar à morte em
poucas horas. Os meios terapêuticos existentes e viáveis para cólera são:
Reidratação:
O objetivo dessa terapia é repor os líquidos e eletrólitos perdidos usando uma
solução simples de sais para reidratar os pacientes, chamada de SRO. Sem a
hidratação necessária, cerca de metade das pessoas com cólera morrem. Com o
tratamento, o número de mortes cai para menos de 1%.
Fluidos
intravenosos: Durante uma epidemia de cólera, a maioria das pessoas pode ser
reidratada via oral, mas quando a desidratação atingiu níveis ainda mais
graves, o paciente pode precisar de fluidos intravenosos para sobreviver.
Antibióticos:
Embora os antibióticos não sejam parte essencial do tratamento de cólera,
alguns desses medicamentos podem reduzir tanto a quantidade quanto a duração da
diarreia relacionada à cólera.
Suplementos
de zinco: A investigação demonstrou que o zinco pode diminuir e encurtar a
duração da diarreia em crianças com cólera. Por isso, pediatras podem indicar o
uso de suplementos de zinco para alguns casos da doença em crianças.
Medicamentos
:
Os
medicamentos mais usados para o tratamento de cólera são:
- Azitromicina
- Bactrim
- Bacteracin e Bacteracin-F
- Clordox
- Ciprofloxacino
- Doxiciclina
A
desidratação grave, provocada pela diarreia, pode levar o paciente à morte. Se
tomarem a quantidade líquidos adequada, a maioria das pessoas conseguirá se
recuperar totalmente, sem maiores dificuldades, portanto o tratamento imediato
é essencial para não agravar o quadro da doença.
Prevenção:
- Lavar
as mãos com água e sabão frequentemente, especialmente depois de usar o
banheiro e antes de manipular alimentos. Se possível, desinfete as mãos
com álcool.
- Beba
apenas água potável, de preferência água engarrafada.
- Alimente-se
de comidas completamente cozidas e quentes.
- Evite
alimentos que se come crus, como peixes e mariscos de qualquer tipo.
- Atenha-se
a frutas e legumes que você pode mesmo pode preparar e descascar, como
bananas, laranjas e abacates.
- Desconfie
de laticínios, incluindo sorvetes, que muitas vezes podem ser feitos com
leite não pasteurizado.
Hoje em
dia, já existem doses de vacina disponíveis para cólera. Esta é, de longe, a
forma mais eficaz de evitar a infecção. As vacinas existentes, no entanto, não
são aplicadas rotineiramente na população, pois oferecem proteção relativa e de
curta duração.
Como exemplo da aplicação de vacinas foram as mulheres no Malawi, as quais receberam uma vacina contra a cólera durante a gravidez e não apresentaram chances de risco de perda na gravidez ou mortalidade neonatal, de acordo com o estudo do observatório de Cohort, realizado por pesquisadores dos EUA e Malawi.
Sabe-se que o cólera pode
causar complicações graves em mulheres grávidas e seus fetos se a doença não
for tratada prontamente. Shanchol é uma das 2 vacinas de cólera inativadas
orais recomendadas pela OMS para reduzir o risco de cólera e é a vacina de
cólera mais comum utilizada em resposta a surtos em países de baixa renda. No
entanto, as mulheres grávidas geralmente são excluídas das campanhas de
vacinação contra a cólera devido à falta de dados de segurança.
Bibliografia:
MINHA VIDA. Cólera. Disponível em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/colera>. Acesso em: 12 jul. 2017.
COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS. Cólera. Disponível em: <http://casal.al.gov.br/sevicos-oferecidos/outros-servicos/meio-ambiente/attachment/colera/>. Acesso em: 12 jul. 2017.
WIKIPEDIA. Cólera. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/cólera>. Acesso em: 12 jul. 2017.
GEROLOMOI, Moacir; PENNAII, Maria Lúcia Fernandes. Os primeiros cinco anos da sétima pandemia de cólera no brasil, Cidade, p.111-222, set./jul. 2017. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?pid=s0104-16731999000300003>.Acesso em: 12 jul. 2017.
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