sexta-feira, 14 de julho de 2017

Febre Tifoide



Introdução
A febre tifoide é causada pela bactéria Salmonella enterica do sorotipo typhi. Essa bactéria pertence à família Enterobacteriaceae e são bastonetes gram-negativos. Ela é altamente adaptada ao organismo humano, sendo este o seu reservatório. Desta forma, uma quantidade significativa de Salmonella spp. é eliminada nas fezes, provocando contaminação da água e do solo.

Salmonella typhy
Fonte: http://salmonellatyphi.org/ acesso em 11/07/17
A febre tifoide é normalmente contraída através da ingestão de alimentos e água contaminados com a bactéria. Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), aproximadamente 21,5 milhões de pessoas por ano contraem a doença. A fatalidade da febre tifoide para casos não tratados é cerca de 10% e, para casos tratados com antibióticos, 1%.
O número de pessoas que contraem a doença é maior nos países subdesenvolvidos; isso se dá pela menor qualidade da rede de tratamento de esgoto e da distribuição e armazenamento de água existente nesses países. Existem, ainda, aqueles que portam a bactéria no seu trato gastrointestinal sem apresentar os sintomas; estes continuam eliminando a bactéria nas fezes, mantendo o risco de contaminação da água e do solo.
A portadora assintomática mais conhecida foi uma cozinheira estadunidense que ficou conhecida como Typhoid Mary. Ela responsável por um surto de febre tifoide em pelo menos 51 pessoas pela sua falta de cuidados no manuseio dos alimentos que preparava.

Fatores de virulência

A Salmonella possui uma ilha de patogenicidade (SP-1) que confere a maioria de suas características patogênicas. No operon presente nessa ilha de patogenicidade, é observado um operon composto por sete genes. O primeiro gene desempenha papel fundamental na invasão de células epiteliais, que é uma característica que intensifica as infecções.
A S. typhi aderem nas células do epitélio intestinal através de suas fímbrias. Essa bactéria possui mecanismos de proteção contra os mecanismos de defesa do corpo infectado; o LPS contribui para a defesa contra as defensinas e a cápsula também dificulta o reconhecimento e fagocitose pelos fagócitos do sistema imune do hospedeiro.  Ela possui, ainda, flagelos que facilitam sua locomoção pelos tecidos do hospedeiro.

Sintomas

Ao contrair a doença, a pessoa geralmente manifesta os sintomas segundo algumas fases determinadas. Na primeira semana da doença, chamada de período de incubação, o paciente demonstra um quadro febril que aumenta progressivamente; este é acompanhado por dor de cabeça, mal estar geral, diminuição da força física, dores musculares, dor abdominal e vômitos.
No período de estado, que corresponde a segunda e terceira semanas da doença, ocorre o agravamento dos sintomas anteriores, principalmente da febre e dos sintomas digestórios; o acúmulo de toxinas provocam um quadro de toxemia; a fraqueza se intensifica e são observados quadros de desidratação, torpor, olhos fundos e inexpressivos – conhecido como olhar tífico – obstipação intestinal ou diarreia, icterícia, hepatoesplenomegalia, meteorismo e borborigmo. Podem ser observadas, também, manchas rosadas na pele.
No último período, chamado de período de declínio, que corresponde a quarta semana de evolução, os sintomas tendem a diminuir a intensidade de forma progressiva. A maioria das reações relacionadas à septicemia acontecem durante o período de estado; essas complicações aparecem em cerca de 10% dos pacientes.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito a partir do isolamento da bactéria em culturas de amostras de sangue, fezes, urina ou biopsias das lesões na pele. Segundo o manual oferecido pelo Ministério da Saúde para diagnóstico de Salmonella spp são utilizados o Ágar EMB e o Ágar MacConkey para realizar o cultivo. Os resultados dos testes bioquímicos para Salmonella typhi estão na tabela abaixo.
Tabela 1: Testes bioquímicos para Salmonella typhi
Glicose
Manitol
Lactose
Sacarose
Dulcitol
-
+
-
-
-
Acetato
Malonato
H2S
Mobilidade
Hidrólise ureia
-
-
+
+
-
Vermelho de metila
Voges-Proskauer
Indol
Citrato Simmons
ONPG
+
-
-
-
-
Lisina descarboxilase
Arginina dehidrolase
Ornitina descarboxilase
KCN
Fenilalanina desaminase
+
-
-
-
-
- = negativo; + = positivo    Fonte: Ministério da Saúde, 2011
           Podem ser utilizados testes de DNA e testes de imunodiagnóstico para comprovar a existência do patógeno na amostra.

Tratamento

O tratamento para febre tifoide se dá a partir de antibióticos, como o Cloranfenicol e a Amoxacilina, e reidratação. Em casos mais leves, pode-se fazê-los oralmente em casa. Quando os casos são mais severos, é recomenda a internação para que os antibióticos sejam administrados de forma intravenosa. Existem casos de resistência a alguns antibióticos devido a presença de um plasmídeo transferível. O uso descontrolado de antibióticos pode estar relacionado a esse fato.
Atualmente existem muitos grupos focados em desenvolver vacinas para a febre tifoide. Existem duas vacinas licenciadas e disponíveis no mercado. Apesar disso, o desenvolvimento de novas vacinas procuram aumentar sua eficácia e a imugenicidade do antígeno utilizado.

Bibliografia

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IFRJ
Beatriz Monteiro Rocha
BM 161

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