Introdução
O encéfalo e a medula
espinhal são revestidos por membranas, as quais recebem o nome de meninges e
formadas por tecido conjuntivo. Há três membranas, são essas: dura-máter,
aracnoide e pia-máter.
As meninges podem ser
inflamadas, o que gera uma doença conhecida como meningite. Existem inúmeros
agentes que podem causar essa doença, como bactéria, vírus e mais incomumente
por fungos. Assim, há as chamadas
meningites virais e as meningites bacterianas.
O quadro clínico nas
meningites virais é considerado mais levem, uma vez que o paciente possui
sintomas semelhantes aos de resfriados e gripes. Enquanto, as meningites
bacterianas são mais graves.
As bactérias meningococos,
pneumococos e hemófilos são os principais agentes causadores da meningite bacterianas.
Essas são transmitidas pelas vias respiratórias e a faixa etária em que é mais
comum ocorrer é em crianças até cinco anos e em poucos causos ocorre em idosos.
Sendo sua ocorrência mais registradas em países em desenvolvimento.
Os meningococos são
patogênicos apenas para os seres humanos, quando os mesmos são seu hospedeiro
natural. Esses podem permanecer na nasofaringe sem provocar a doença, porém
caso alcancem a corrente sanguínea, gerarão uma bacteriemia com febre alta,
entre outras complicações.
A bactéria Neisseria meningites, também chamada de
meningococo, é a causadora de uma infecção aguda e que tem uma alta taxa de
mortalidade. As Neisserias formam um grupo de cocos, que são gram-negativos.
Além disso, essas são anaeróbicas estritas e fermentam diversos carboidratos.
Normalmente, alguns integrantes desse grupo estão presentes nas vias aéreas
humanos, porém outros são patogênicos ao ser humano.
Caso
clínico – Meningite meningocócica por Neisseria
Meningidis
Paciente: Homem, 27 anos.
Dados
clínicos do paciente:
- Dor abdominal forte
- Para de eliminação de fezes há três dias e febre de 38,3°C num período de 24h
- Passou por laparotomia há 7 anos (por apendicite aguda)
- Outros sintomas ou informações relevantes para o caso (viagens, uso de drogas, outras doenças) foram negadas pelo paciente.
Pós-triagem:
O paciente se apresentava
confuso, agitado e desidratado com sinais de septicemia. A febre continuava na
mesma temperatura. Batimentos cardíacos em 112 bpm. Hipotenso e taquipnéico.
Exame visual concluiu: uma cicatriz dolorosa no abdómen, por conta da
laparotomia. Nenhum sinal de hepatopatia ou ascite. Sem muco nas fezes ou
sangramento anal.
Os exames de laboratório
retornaram um quadro de leucocitose. Gasometria retornou um quadro de acidose
metabólica, proteína C reativa elevada. A radiografia de abdómen não retornou
alterações, assim como exame de urina e eletrólitos, e ressonância magnética do
abdómen.
Com as informações acima,
o diagnóstico diferencial que foi dado inicialmente foi: Abdomén agudo inflamatório com periotonite difusa e abdómen agudo obstrutivo.
O tratamento dado foi:
expansão volêmica adequada, 20 mL/kg e antibiótico com ciprofloxacino 400mg de
12 em 12h e metronidazol 500mg 8h/8h (ambos antibióticos). Além disso, o
paciente foi encaminhado para uma laparotomia exploratória.
Na operação, os médicos
acharam apenas distensões de alças de delgado com presença de bridas espessas e
líquido purulento espesso na cavidade abdominal em pelve. Não foi achada
nenhuma outra informação relevante, a origem do pus não foi identificada.
O resultado da cultura
retornou Neisseria meningidis do
grupo C. Confirmado por reação de cadeia da polimerase (PCR). O antibiograma
retornou sensibilidade a ceftriaxona, meropenem e rifampicina.
No 2º dia do
pós-operatório o quadro evoluiu para uma piora da confusão mental e sinais
meníngeos positivos além de petequias difusas e plaqueotopenia. Foi feita uma
análise do LCR, tendo como resultado positivo para Neisseria meningidis do grupo C (diplococos gram-negativos) com
3,3*10^4 células/mm3 sendo em sua maioria, neutrófilos. O
paciente foi encaminhado para UTI com diagnóstico de meningite com
meningococcemia e iniciou-se o tratamento com Ceftriaxona 1g de 12/12h e evoluiu
com melhora do quadro neurológico e abdominal após 3 dias (72h).
Termos de relevante explicação para o entendimento do
caso clínico acima descrito:
- Taquipnéia – Aceleração do ritmo respiratório
- Plaquetopenia – também chamado de tambocitopenia, é um nível baixo de plaquetas no sangue
- Hepatopatia – Doença no fígado
- Petequias – Pequeno ponto vermelho no corpo (na pele ou em mucosas)
- Leucocitose – Aumento da taxa de leucócitos no sangue acima do valor de referência limite.
- Ascite – Acúmulo de líquido seroso no peritônio
- Abdómen agudo – Dor abdominal aguda.
- Peritonite difusa – Inflamação do peritônio difundida por toda a cavidade peritoneal.
- Abdómen agudo obstrutivo – Dor por obstrução do abdómen, seja esta mecânica ou funciona
Diagnóstico
O diagnóstico da doença
meningocócica inclui exame físico para a detecção de lesões cutâneas, hemograma
e os testes de Kernig e Brudzinki, os quais avaliam a irritação meníngea. Além
disso, outra técnica que pode ser usada para o diagnóstico é o PCR (reação em cadeia da polimerase), uma vez que é
altamente específica, porém não é um procedimento de rotina.
Com o objetivo
de diagnosticar o paciente recomenda-se fazer o isolamento da N.
meningitidis do sangue ou líquor. Nas
meningococcemias, o leucograma apresenta-se com milhares de leucócitos, havendo
predominância de neutrófilos. A hemocultura é positiva e o raspado das lesões
de pele pode ser cultivado para identificação do agente.
Características
do agente etiológico
A
bactéria Neisseria Meningitidis é um
diplococo gram negativo, reniforme, medindo de a 1 µm. Anaeróbios facultativos,
não esporulados, encapsulados, imóveis e portadoras de um pili os meningococos são antropofílicos. Cultivadas em ágar sangue
ou chocolate por 72h à 37° C, em atmosfera úmida contendo de 5 a 10% de.
Forma colônias transparentes e não hemolíticas.
A identificação diagnóstica é realizada a
partir da morfologia e dos seguintes testes bioquímicos: oxidase positiva,
β-galactosidase negativa e capacidade de oxidação de glicose e maltose, em
detrimento de lactose e sacarose.
São classificadas em sorogrupos de acordo com
a gama de epítopos proteicos apresentados, sendo patogênicos os sorogrupos A,
B, C, Y e W135.
Analisando sua virulência pode-se dizer que a
cápsula dos meningococos funciona como antifagocitico, enquanto o pili facilita a colonização. Proteases
IgA1 e proteínas de ligação a transferrina dificultam o metabolismo e desaceleram
a resposta imune e por fim, LPS e endotoxinas agravam os sintomas.
Tratamento
Quando há suspeita
clínica, o início do tratamento deve ser imediato e não deve aguardar
resultados de exames. O tratamento é feito com antibióticos por via endovenosa
e medidas de suporte (como hidratação). Cerca de 5 a 10% dos indivíduos evoluem
para óbito apesar do tratamento. Das pessoas que sobrevivem, 9 a 11% ficam com
algum tipo de sequela permanente (surdez, paralisias, convulsões, amputação de
extremidades). A administração de antibiótico profilático para quem teve
contatos próximos com os indivíduos doentes deve ser feita rapidamente, pois
reduz significativamente o aparecimento de casos secundários. O antibiótico
varia de acordo com a concentração de bactérias de Neisseria Meningitidis no
portador. Quando a MIC é menor que 0,1 µg/ml os antibióticos mais recomendados
são Penicilina G ou Ampicilina, ou Ceftriaxona, Cefotaxima ou Cloranfenicol.
Quando a MIC está entre 0,1-1,0 µg/ml os mais recomendados são Ceftriaxona ou
Cefotaxima, ou Meropenem, Cloranfenicol ou Moxifloxacino.
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