Haemophilus
Influenzae B (Hib)
É uma bactéria que atinge principalmente
crianças de até 5 anos de idade, infeccionando principalmente nariz e garganta
e evoluindo para a pele, ouvidos, pulmões, articulações, membranas que revestem
o coração, medula espinhal e cérebro.
Essa bactéria pode evoluir para doenças com
casos clínicos mais graves como pneumonia, inflamação na epiglote, dor de
ouvido, infecção generalizada na corrente sanguínea, inflamação no pericárdio,
inflamação das articulações e sinusite. Sendo a pior de todas as doenças que
essa bactéria pode gerar é a meningite, que geralmente tem início com súbito de
febre, dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos e rigidez de nuca.
O contagio com a bactéria Haemophilus Influenza
B (Hib), causa de sequelas de 3 à 5% das pessoas que sobreviveram ao contagio.
Essa bactéria é transmitida através do contato
com pessoas contaminadas, mesmo que estes não apresentem manifestações cínicas.
A bactéria passa de pessoa para pessoa através das secreções das mucosas
nasais.
O diagnóstico etiológico depende de métodos
laboratoriais, como cultura de líquor, testes de aglutinação do látex e
contra-imunoeletroforese. O prognóstico depende da precocidade com o qual a
identificação da doença e seu agente etiológico é feita, da idade e das
condições clínicas do paciente, além do começo imediato do tratamento.
Característica do
Agente Etiológico
O agente etiológico é o Haemophilus influenzae sendo do tipo b o mais frequente, podendo
ocorrer meningite por outros sorotipos, como a, c, d, e,
f. A família de Haemophilus possuem como características ser gram-negativo, imóvel,
capsulado (em casos de Meningite, principalmente), pleomórfico, as colônias
geralmente possuem aspecto acizentado, cultivam-se em meio rico e com alta
quantidade de CO2, são nutricionalmente exigentes e são comensais de mucosas no
trato respiratório superior, principalmente nasofaringe. E a espécie Haemophilus influenzae é uma das mais
relevantes, presente na flora normal de mucosas, causa infecções invasivas. O H. influenzae sorotipo B (Hib) é o
principal agente da meningite bacteriana.
Possui como fatores de virulência:
·
Cápsula polissacarídica:
constituída de PRP (poli-ribosil-fosfato).
Há variações na cápsula que possibilitam agrupar o H. influenzae em 6
sorotipos, com diferentes determinantes antigênicos.
·
Endotoxina (LPS).
·
OMPs
= proteínas de membrana externa.
·
Fímbrias
= interação bactéria-hospedeiro.
·
IgA protease
= é liberada pela bactéria e degrada IgA. Constitui, junto com a cápsula, o
principal fator de virulência da bactéria → proteção contra fagocitose.
·
Resistência a antibióticos =
ampicilina e cloranfenicol. Em geral, observando
espécimes clínicas de um indivíduo doente, serão observadas bactérias
capsuladas, já que esta estrutura é um dos principais fatores de virulência da
bactéria.
As bactérias capsuladas frequentemente causam
meningite, podendo entrar pela mucosa respiratória, provoca bacteremia e se
espalhar sistemicamente. Daí, pode
chegar nas meninges, onde se multiplica. Mas também pode ocorrer de
uma infecção não-invasiva na mucosa respiratória, a bactéria pode adquirir
cápsula e causar uma infecção invasiva.
Na mucosa respiratória, a bactéria se multiplica e libera substâncias
que podem prejudicar as células locais.
A seguir, tais bactérias podem invadir os tecidos subjacentes, causando
problemas locais (infecção não-invasiva).
Porém, caso a bactéria atinja o sangue e adquira um aspecto de
bacteremia, tem-se uma infecção invasiva. Um exemplo é a pneumonia, que
inicialmente é localizada.
A determinação da etiologia é essencial para o
manuseio clínico dos casos e alteração do prognóstico de uma doença de
gravidade considerável.
De acordo com um dos artigos estudados: Haemophilus
influenzae tipo b: situação epidemiológica no Estado de Minas Gerais,
Brasil, 1993 a 1997, eles pesquisaram que no Estado de Minas Gerais, de
1993 a 1997, foram notificados 11.441 casos de meningites, dos quais 5.649
(49,4%) bacterianas e do total das meningites bacterianas, 62,0% tiveram a
etiologia identificada e 38,0% foram classificadas como bacterianas
não-especificadas. Dos agentes etiológicos, Haemophilus
influenzae foi o segundo mais abundante com 720 casos (12,7%). No estudo
desse artigo, a etiologia foi determinada por citoquímica em 44,6% dos casos,
bacterioscopia em 11,7%, cultura em 10,8%, aglutinação do látex em 7,9% e contra-imunoeletroforese
em 1,8%. Em 23,1% dos casos, a classificação etiológica foi feita por critério
clínico-epidemiológico. A meningite bacteriana especificada foi diagnosticada
por cultura em 94,2% e aglutinação do látex em 3,8% dos casos. A meningite bacteriana
não especificada foi diagnosticada por citoquímica em 64,2%, bacterioscopia em
34,9% e cultura em 0,3% dos casos, porém nas meningites, a punção lombar e o
exame do líquor são realizados em grande parte dos casos, cujo não foi usado no
trabalho do artigo pela limitação dos recursos do laboratório.
Imagem 2: Distribuição proporcional das meningites bacterianas de maior ocorrência no Estado de Minas Gerais, no período de 1993 a 1997, segundo etiologia e faixa etária. Retirada do link: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n5/17799>.
Diagnóstico da
Meningite
Diagnóstico Geral:
Primeiramente observa-se os sintomas do
paciente, que normalmente trata-se de uma criança com idade na faixa de menos
de 1 a 5 anos. Esses sintomas que alertam para um possível caso de meningite
são: febre, cefaleia (dor de intensidade variável, localizada ou difusa, em
qualquer parte da cabeça), vômitos, rigidez de nuca, sonolência, convulsões. Já
em pacientes com idade inferior a 1 ano, os sintomas de irritação meníngea
normalmente não aparecem, apresentando assim apenas vômito, sonolência,
irritabilidade, convulsões e abaulamento de fontanela(uma curva suave para fora
(externa) da moleira ou fontanela de um bebé).
Além disso, podem ser feitos dois tipos de
testes físicos: o sinal de kerning e o sinal brudzinski. A forma de execução
desses testes de diagnóstico é exemplificada na imagem abaixo:
Diagnóstico específico:
Para descobrir o agente causador da meningite,
se faz uso do principal exame laboratorial é o exame do líquor. Esse teste
trata-se da análise do Líquido Céfalo Raquidiano, onde esse apresenta-se turvo
com cor branca leitosa ou xantocrômica. Os resultados bioquímicos evidenciam,
em uma constatação de meningite, glicose e cloretos diminuídos, proteínas
elevadas, celularidade muito aumentada devido a presença de neutrófilos
polimorfonucleares. O Gram do sedimento do LCR pode evidenciar a presença de
bacilo gram negativo pleomórfico. Pleomorfismo se refere a capacidade de variar
sua forma de acordo com o período do ciclo de vida/reprodutivo ou das condições
ambientais.
É realizada em seguida a cultura do líquor para
o diagnóstico explícito do agente causador. As hemoculturas são usadas como
complemento do exame do líquor.
A tabela abaixo evidência a diferença dos
valores considerados normais para um indivíduo que não apresenta meningite e os
valores padrões que configurariam um teste positivo para a doença. Lembrando
que existe, além de bactérias, outros agentes causadores de meningite como
vírus, por exemplo.
Outros tipos de exames que podem ser feitos:
- · Contra-imuno-eletroforese cruzada (CIE)
- · prova do Látex sensibilizado (anti-Hib)
Ambos acima podem
ser realizados após o uso de antibióticos, com pouca interferência nos seus
resultados.
Caso Clínico
Caso Clínico II:
M.J.S.,
mulher de 52 anos. Deu entrada com quadro de cefaleia holocraniana de forte
intensidade, vômitos frequentes e dores na nuca há 8 dias, além de febre de
40°C naquele dia. Exame físico evidenciou rigidez de nuca (sinal de Brudzinski
presente). Após coleta do líquido cefalorraquidiano, isolou-se Haemophilus
influenzae tipo B em cultura. Paciente evoluiu com rebaixamento do nível de
consciência, hipertensão arterial e febre de difícil controle sendo
estabilizada e encaminhada à unidade de terapia intensiva, necessitando de
ventilação mecânica invasiva e uso de drogas vasoativas. Evoluiu de forma
desfavorável durante sua permanência na UTI, com infecção de foco urinário e
insuficiência respiratória aguda devido a pneumonia associada à ventilação
mecânica por Pseudômonas aeruginosa. Após 46 dias de tratamento com
antibióticos específicos e suporte clínico em UTI e 21 dias em enfermaria,
recebe alta com quadros clínico e hemodinâmico estáveis, consciente e
orientada, recebendo assistência médica, fonoaudiologia e fisioterapêutica em
home care.
Caso Clínico II:
Criança de 27 meses de idade, do sexo masculino,
previamente saudável, com programa nacional de vacinações cumprido, incluindo 4
doses de vacina anti-Hib (anti-Haemophilus
influenzae tipo b) efetuadas aos 2, 4, 6 e 18 meses, foi internada por
quadro de sépsis com meningite. Na história regista-se uma infecção
respiratória alta, medicada com um macrólido, havendo agravamento clínico ao 5°
dia de tratamento, com febre, cefaleias e prostração. Nas hemoculturas e exame
bacteriológico do líquido cefalorraquidiano foi isolado, por reação de
aglutinação com anti-soro monovalente, específico para o sorotipo b, o Hib.
Efetuou terapêutica com dexametasona (0.6mg/kg/dia) e ceftriaxone (100
mg/kg/dia), 4 e 10 dias, respectivamente. Teve boa evolução clínica. Os
contatos fizeram quimioprofilaxia com rifampicina. O doseamento de
imunoglobulinas e subclasses de IgG foi normal bem como o estudo do
complemento. Foram efetuados estudos funcionais «in vitro», conforme tabela I.
A imunofenotipagem dos linfócitos revelou diminuição na percentagem de
linfócitos CD 45 RO/CD4 [16% (N: 23 a 34%)No seguimento desta criança, efetuado
durante 18 meses pós-infecção, constatamos um desenvolvimento adequado à idade,
nomeadamente na aquisição de linguagem. Aos 3 anos de idade, foi reavaliada em
termos imunológicos, na sequência de clínica de rinite alérgica. O doseamento
de IgC, IgM, IgA e complemento foi normal. A IgE revelou um ligeiro aumento da
IgE (53.8 KUUL). O RAST para o Dermatophagoides pteronyssinus foi de 12.7 UK/1
(Classe III). Nos estudos funcionais «in vitro» detectou-se uma resposta
imunológica normal para o polissacárido capsular do pneumococo e uma perda da
imunidade para o toxóide tetânico. A imunofenotipagem linfocitária foi normal,
nomeadamente na percentagem de linfócitos CD 45/RO.
Tratamento
Após o diagnóstico
de meningite inicia-se a antibioticoterapia de acordo com a idade do paciente,
classificando-o em recém-nascido, de um a três meses, de três meses a cinco
anos e maiores de cinco anos. Para recém-nascidos administra-se ampicilina e
cefalosporina de 3ª geração, enquanto pacientes de um a três meses recebem
somente cefalosporina de 3ª geração. Já para pacientes de três meses a cinco
anos, administra-se ampicilina e cloranfenicol, e para pacientes maiores de
cinco anos administra-se apenas ampicilina.
Porém, ao isolar o agente,
restringe-se o espectro de antibiótico. No caso do Haemophilus influenzae, mantém-se apenas o cloranfenicol (quando
inicialmente associado a ampicilina) ou cefalosporina (se iniciada
previamente). O clorafenicol deve ser administrado em doses de 75 a 100
mg/kg/dia, podendo ser associado a doses de EV com 6g/dia (fracionadas em 4
tomadas de 6/6h, 30 min antes das doses de antibióticos). Outra alternativa é o
uso de ceftriaxone, na dose de 100mg/kg/dia e EV, até o máximo de 4 g/dia,
divididas em duas tomadas (de 12/12h).
Estes
tratamentos devem ser feitos no total de sete a dez dias e, posteriormente,
realizar-se a punção de controle de antibiótico após sete dias, caso evolua sem
intercorrências. Se houver pleocitose
persistente e outras alterações no Líquido Cefálio Raquidiano, assim como na
clínica da criança, deve-se manter o uso dos antibióticos e repuncionar em 72h.
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