INFLUÊNCIA DA
EXCREÇÃO DE UM COMPOSTO FÉRRICO NA PATOLOGIA INTESTINAL CAUSADA PELO NEMATÓIDE
INTRAVASCULAR Angiostrongylus costaricensis (Nematoda: Metastrongylidae)
Kyane Guerra Roque
de Araújo¹*, Ivelyne Nascimento Correia¹*, Thatiane Cristina Barros da Silva² e
Ester Maria Mota².
¹IFRJ – Campus
Maracanã
², Laboratório de
Patologia do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ- RJ
*Programa Jovens
Talentos- FAPERJ
Introdução
A Angiostrongilíase Abdominal é uma doença
inflamatória causada pelo verme Angiostrongylus costaricensis em
humanos. O homem adquire essa parasitose pela ingestão de L3 presente em
vegetais e frutas mal lavados ou mal cozidos. A transmissão ao homem é
favorecida pela domiciliação não só dos moluscos terrestres que são os
hospedeiros intermediários, mas também dos hospedeiros definitivos, sendo o
rato algodoeiro o mais importante. As manifestações clínicas em humanos são
febre, anorexia, náuseas, vômito, dor abdominal e eosinofilia sanguínea. A
presença de massa palpável na fossa ilíaca direita pode levar os médicos a
confundirem com um tumor maligno. Quando há lesões hepáticas, o paciente
apresenta dor no quadrante superior direito, sendo a apalpação do fígado
dolorosa e geralmente associada a hepatomegalia. A abordagem cirúrgica é
indicada para pacientes com abdome agudo, a fim de resolver os danos
intestinais relacionados à isquemia. Uma vez que o diagnóstico é estabelecido,
o paciente deve ser orientado em relação ao prognóstico imprevisível
relacionado com esta doença. O diagnóstico é confirmado pela identificação de
ovos, larvas ou vermes adultos de A. costaricensis em espécimes
cirúrgicos. Na ausência de elementos parasitários, a doença pode ser
diagnosticada com base em três achados histopatológicos fundamentais: a) uma
infiltração maciça de eosinófilos em todas as camadas da parede intestinal; b)
reação granulomatosa e; c) vasculite
eosinofílica que afeta artérias, veias, linfáticos e capilares. Não existe
tratamento específico para a angiostrongilíase abdominal, pois o uso de
anti-helmínticos pode agravar a resposta inflamatória, seja: 1) pela circulação
de antígenos liberados de parasitas mortos, ou 2) provocada por migração de
vermes para outros sítios, como por exemplo, artérias do cordão espermático,
produzindo oclusão vascular e necrose testicular, semelhante à observada na
torção desse órgão. Diante do exposto, evidencia-se a importância de melhor
compreensão desta patologia. Pouco se conhece sobre o metabolismo do A.
costaricensis, bem como a influência de seus restos metabólicos na
patogenia. Este helminto alimenta-se de sangue e sendo o ferro um dos elementos
mais abundantes deste nutriente, resolvemos neste estudo investigar o papel do
composto férrico excretado a partir da digestão da hemoglobina.
Objetivo
O objetivo desse estudo foi identificar a presença de
composto de férrico excretado por vermes adultos em lesões intestinais de Sigmodon
hispidus infectados experimentalmente por A. costaricensis.
Metodologia
Foram usados blocos
parafinizados já preparados com fragmentos do de S. hispidus com 90dpi, que
foram levados ao micrótomo onde foram feitos cortes de 5µm e preparadas as
lâminas, que haviam sido anteriormente confeccionadas com ovoalbumina, e
levadas à estufa em 40ºC onde ficaram por 24 horas para que o corte pudesse se
aderir à lâmina. Feito isso, as lâminas foram coradas por dois métodos:
Hematoxilina e Eosina de Mayer e Método de Pearls.
No método de Hematoxilina e
Eosina foi feito a desparafinização e hidratação das lâminas até a água
destilada, onde a mesma foi descartada na pia, corou-se com Hematoxilina de
Mayer durante 20 minutos, lavou-se em água corrente durante 25 minutos
colocando-se a cuba contendo as lâminas num béquer grande para realizar esse
procedimento. Começou-se a desidratação com álcool 70% durante 3 minutos e corou-se
com Eosina-Floxina durante 40 segundos e lavou-se em seguinte rapidamente com
álcool 95%, depois desidratou-se em 3 banhos de álcool absoluto 3 minutos cada,
seguidamente, clarificou-se em 3 banhos de xilol durante 3 minutos cada, e por
fim, montou-se as lâminas com lamínulas e goma de damar.
Já no método de Pearls, os
cortes foram desparafinizados e hidratados e depois colocadas as lâminas na
solução estoque de Ferrocianeto de potássio 5% durante 5 minutos, feito isso,
colocou-se as lâminas na solução de uso de Ferrocianeto de potássio por 20
minutos que depois de usada foi descartada. Fez-se a lavagem das lâminas em
água destilada por 3 minutos 2 vezes e corou-se com vermelho rápido nuclear por
5 minutos, lavando em seguida com água destilada. Por fim, desidratou-se,
clarificou-se e montou as lâminas com goma de damar e lamínulas.
Após preparo das lâminas as
mesmas foram levadas para um microscópio para obter os resultados e realizar uma
análise a partir dos mesmos.
Resultados
O
S. hispidus com 90 dias
de infecção por A. costaricensis exibiram ovos em diferentes estágios
embrionários e L1 em todas as camadas da parede intestinal, sobretudo no ceco
(Figuras 1 a 3). Estas formas parasitárias estavam envolvidas por granulomas
compostos por macrófagos e eosinófilos (Figura 1). Macrófagos que participavam
da lesão granulomatosa e do infiltrado da parede intestinal estavam positivos à
coloração de Perls (Figuras 2 a 5). Ovos e larvas não estavam positivos ao
Perls (Figuras 2 e 3). Apesar da presença do infiltrado inflamatório, estas
formas parasitárias estavam íntegras sem evidência de destruição pela ação das
células inflamatórias (Figuras 1 a 3).
Figura 1: Ovos e
larvas envolvidos por reação granulomatosa na submucosa intestinal de S.
hispidus com 90dpi por A. costaricensis. HE.
Figuras
2 e 3: Macrófagos do
infiltrado granulomatoso carreando composto férrico (azul) circundando ovos e
L1 na submucosa cecal de S. hispidus infectados por A. costaricensis. Coloração
de Perls.
Figuras
4 e 5: Aspecto do
infiltrado inflamatório da parede intestinal exibindo macrófagos contendo
composto férrico (azul). Coloração de Perls.
Discussão
e Conclusão
Este trabalho, ainda inicial, mostra que macrófagos na lesão da
angiostrongilíase abdominal fagocitam um composto férrico. O ferro é um
elemento traço presente em proteínas envolvidas em importantes processos metabólicos.
A regulação do conteúdo celular de ferro é essencial para a vida dos
organismos, uma vez que em excesso torna-se extremamente tóxico. O trematódio
hematófago Schistosoma mansoni cristaliza o heme oriundo da digestão de
hemoglobina em um composto não tóxico que é regurgitado na circulação: a
hemozoína. Estudos demonstraram o papel imunomodulatório da hemozoína na
ativação de macrófagos na esquistossomose. A confirmação da natureza deste
composto evidenciado em nosso estudo será essencial para verificar sua
influência na patogenia causada pelo A. costaricensis.
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