quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

INFLUÊNCIA DA EXCREÇÃO DE UM COMPOSTO FÉRRICO NA PATOLOGIA INTESTINAL CAUSADA PELO NEMATÓIDE INTRAVASCULAR Angiostrongylus costaricensis (Nematoda: Metastrongylidae)
Kyane Guerra Roque de Araújo¹*, Ivelyne Nascimento Correia¹*, Thatiane Cristina Barros da Silva² e Ester Maria Mota².
¹IFRJ – Campus Maracanã
², Laboratório de Patologia do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ- RJ
*Programa Jovens Talentos- FAPERJ

Introdução
A Angiostrongilíase Abdominal é uma doença inflamatória causada pelo verme Angiostrongylus costaricensis em humanos. O homem adquire essa parasitose pela ingestão de L3 presente em vegetais e frutas mal lavados ou mal cozidos. A transmissão ao homem é favorecida pela domiciliação não só dos moluscos terrestres que são os hospedeiros intermediários, mas também dos hospedeiros definitivos, sendo o rato algodoeiro o mais importante. As manifestações clínicas em humanos são febre, anorexia, náuseas, vômito, dor abdominal e eosinofilia sanguínea. A presença de massa palpável na fossa ilíaca direita pode levar os médicos a confundirem com um tumor maligno. Quando há lesões hepáticas, o paciente apresenta dor no quadrante superior direito, sendo a apalpação do fígado dolorosa e geralmente associada a hepatomegalia. A abordagem cirúrgica é indicada para pacientes com abdome agudo, a fim de resolver os danos intestinais relacionados à isquemia. Uma vez que o diagnóstico é estabelecido, o paciente deve ser orientado em relação ao prognóstico imprevisível relacionado com esta doença. O diagnóstico é confirmado pela identificação de ovos, larvas ou vermes adultos de A. costaricensis em espécimes cirúrgicos. Na ausência de elementos parasitários, a doença pode ser diagnosticada com base em três achados histopatológicos fundamentais: a) uma infiltração maciça de eosinófilos em todas as camadas da parede intestinal; b) reação granulomatosa e;  c) vasculite eosinofílica que afeta artérias, veias, linfáticos e capilares. Não existe tratamento específico para a angiostrongilíase abdominal, pois o uso de anti-helmínticos pode agravar a resposta inflamatória, seja: 1) pela circulação de antígenos liberados de parasitas mortos, ou 2) provocada por migração de vermes para outros sítios, como por exemplo, artérias do cordão espermático, produzindo oclusão vascular e necrose testicular, semelhante à observada na torção desse órgão. Diante do exposto, evidencia-se a importância de melhor compreensão desta patologia. Pouco se conhece sobre o metabolismo do A. costaricensis, bem como a influência de seus restos metabólicos na patogenia. Este helminto alimenta-se de sangue e sendo o ferro um dos elementos mais abundantes deste nutriente, resolvemos neste estudo investigar o papel do composto férrico excretado a partir da digestão da hemoglobina.

Objetivo
O objetivo desse estudo foi identificar a presença de composto de férrico excretado por vermes adultos em lesões intestinais de Sigmodon hispidus infectados experimentalmente por A. costaricensis.


Metodologia
Foram usados blocos parafinizados já preparados com fragmentos do de S. hispidus com 90dpi, que foram levados ao micrótomo onde foram feitos cortes de 5µm e preparadas as lâminas, que haviam sido anteriormente confeccionadas com ovoalbumina, e levadas à estufa em 40ºC onde ficaram por 24 horas para que o corte pudesse se aderir à lâmina. Feito isso, as lâminas foram coradas por dois métodos: Hematoxilina e Eosina de Mayer e Método de Pearls.
No método de Hematoxilina e Eosina foi feito a desparafinização e hidratação das lâminas até a água destilada, onde a mesma foi descartada na pia, corou-se com Hematoxilina de Mayer durante 20 minutos, lavou-se em água corrente durante 25 minutos colocando-se a cuba contendo as lâminas num béquer grande para realizar esse procedimento. Começou-se a desidratação com álcool 70% durante 3 minutos e corou-se com Eosina-Floxina durante 40 segundos e lavou-se em seguinte rapidamente com álcool 95%, depois desidratou-se em 3 banhos de álcool absoluto 3 minutos cada, seguidamente, clarificou-se em 3 banhos de xilol durante 3 minutos cada, e por fim, montou-se as lâminas com lamínulas e goma de damar.
Já no método de Pearls, os cortes foram desparafinizados e hidratados e depois colocadas as lâminas na solução estoque de Ferrocianeto de potássio 5% durante 5 minutos, feito isso, colocou-se as lâminas na solução de uso de Ferrocianeto de potássio por 20 minutos que depois de usada foi descartada. Fez-se a lavagem das lâminas em água destilada por 3 minutos 2 vezes e corou-se com vermelho rápido nuclear por 5 minutos, lavando em seguida com água destilada. Por fim, desidratou-se, clarificou-se e montou as lâminas com goma de damar e lamínulas.
Após preparo das lâminas as mesmas foram levadas para um microscópio para obter os resultados e realizar uma análise a partir dos mesmos.
Resultados
O S. hispidus com 90 dias de infecção por A. costaricensis exibiram ovos em diferentes estágios embrionários e L1 em todas as camadas da parede intestinal, sobretudo no ceco (Figuras 1 a 3). Estas formas parasitárias estavam envolvidas por granulomas compostos por macrófagos e eosinófilos (Figura 1). Macrófagos que participavam da lesão granulomatosa e do infiltrado da parede intestinal estavam positivos à coloração de Perls (Figuras 2 a 5). Ovos e larvas não estavam positivos ao Perls (Figuras 2 e 3). Apesar da presença do infiltrado inflamatório, estas formas parasitárias estavam íntegras sem evidência de destruição pela ação das células inflamatórias (Figuras 1 a 3).

Figura 1: Ovos e larvas envolvidos por reação granulomatosa na submucosa intestinal de S. hispidus com 90dpi por A. costaricensis. HE.
           


Figuras 2 e 3: Macrófagos do infiltrado granulomatoso carreando composto férrico (azul) circundando ovos e L1 na submucosa cecal de S. hispidus infectados por A. costaricensis. Coloração de Perls.

















               


Figuras 4 e 5: Aspecto do infiltrado inflamatório da parede intestinal exibindo macrófagos contendo composto férrico (azul). Coloração de Perls.

Discussão e Conclusão
Este trabalho, ainda inicial, mostra que macrófagos na lesão da angiostrongilíase abdominal fagocitam um composto férrico. O ferro é um elemento traço presente em proteínas envolvidas em importantes processos metabólicos. A regulação do conteúdo celular de ferro é essencial para a vida dos organismos, uma vez que em excesso torna-se extremamente tóxico. O trematódio hematófago Schistosoma mansoni cristaliza o heme oriundo da digestão de hemoglobina em um composto não tóxico que é regurgitado na circulação: a hemozoína. Estudos demonstraram o papel imunomodulatório da hemozoína na ativação de macrófagos na esquistossomose. A confirmação da natureza deste composto evidenciado em nosso estudo será essencial para verificar sua influência na patogenia causada pelo A. costaricensis.


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