A brucelose é uma das muitas doenças
causas por infecções bacterianas. Também
conhecida como Febre de Malta, de
Gibraltar, ou mediterrânea, é uma doença zoonótica infecciosa causada pela
bactéria Brucella. A mesma é uma
bactéria Gram-negativa que pertence à família Brucellaceae. As células possuem forma de bastonetes curtos e ovais
(bacilos/cocobacilos) imóveis, normalmente isoladas ou, com menor aparição, aos
pares ou em cadeias curtas.
Apesar
de ser subestimada no meio médico, é uma das mais importantes e perigosas
zoonoses bacterianas. Chega a atingir a cada ano mais de meio milhão de casos
novos, principalmente em países em desenvolvimento. É considerada hiperendêmica em áreas do Mediterrâneo,
Península Arábica, Índia, México, América Central e América do Sul.
Ela afeta principalmente
animais, incluindo cabras, ovelhas, camelos, porcos, cervos, bovinos e cães. Os
seres humanos desenvolvem essa infecção quando entram em contato com animais ou
produtos de origem animal que estejam contaminados.
Os locais que se dizem livres
da doença, podem ter a mesma “importada”, um fato relatado pelas cínicas de
viagens médicas. Algumas áreas do globo chegam a ter prevalência de 10 casos
por 100.000 habitantes e, embora seja raramente fatal nos seres humanos
(letalidade de 0,1%), causa principalmente abortos e infertilidade.
HISTÓRIA
De
acordo com Greenstone (1993), no final do século 19, na ilha de Malta, milhares
de soldados britânicos desenvolveram uma doença caracterizada por febre,
calafrios, mal-estar, linfadenopatia e, muitas vezes, choque e morte. David
Bruce, microbiologista enviado pelo governo britânico, isolou, em colaboração
com um microbiologista maltês, um microrganismo a que chamaram Micrococcus
melitensis, em amostras coletadas de soldados. Mais tarde, em sua homenagem, a
doença passou a ser denominada brucelose. Em
1905, Dr. Themistokles Zammit, um médico da República de Malta, demonstrou que
cabras abrigavam o germe e eram fontes de infecção para os soldados ingleses
que bebiam leite de cabra fresco. O governo britânico determinou que os
soldados parassem de beber o leite, e, dessa forma, a doença e a morte
associada à doença diminuíram drasticamente.
Em
1917, os veterinários dinamarqueses Bang e Stribol isolaram o agente causador
do aborto enzoótico dos bovinos denominando-o Bacillus abortus. No ano
seguinte, a pesquisadora americana Alice Evans publicou um trabalho importante
para o conhecimento da brucelose quando demonstrou as semelhanças morfológicas,
imunológicas e de cultivo entre as bactérias isoladas por Bruce e Bang
(POESTER, 2009). Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (2001), a
distribuição geográfica da doença é mundial. A distribuição das diferentes
espécies de Brucella e seus biovares varia de acordo com a região, sendo a
Brucella abortus a de maior distribuição.
A primeira referência a respeito da
brucelose humana no Brasil foi encontrada em trabalho de Carneiro, professor de
Microbiologia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, que, em 1913, descreveu
um caso de brucelose. Tratava-se de um homem que fora a Cidreira-RS e, no hotel
em que se hospedara, tivera a oportunidade de ingerir leite de vaca; logo
depois começou a sentir uma série de sintomas que foram relacionados aos da
brucelose (PACHECO; MELLO, 1950).
TRANSMISSÃO
A brucelose é transmitida de
animais para seres humanos de várias maneiras.
·
Consumo
de leite não pasteurizado ou queijo de ovelha e caprinos infectados.
·
Carnes
mal passadas.
·
Inalação
do organismo ou por contato direto com as secreções de animais infectados.
Pessoas
adultas que possuem trabalho no campo ou que vivam perto de abatedouros e de
casas de carne ficam também mais predispostas a contrair brucelose.
Transmissão de humano para humano é
muito rara (via contato sexual e amamentação, transfusão de sangue e doação de
medula), são as principais formas.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico pode ser feito tanto pelo
isolamento e identificação da bactéria (diagnóstico direto) como pela pesquisa
da resposta imunológica à infecção (diagnóstico indireto).
O diagnóstico direto é feito através de
exames bacteriológico dos tecidos e produtos dos animais infectados (tecidos
fetais e genitais) e o diagnóstico indireto pela pesquisa de anticorpos,
através da sorologia, bem como pela pesquisa da resposta celular pelo teste
cutâneo ou testes in vitro. Os testes sorológicos permitem a pesquisa de
anticorpos no soro, líquido seminal e leite dos animais infectados.
INFECÇÃO
Em
animais a bactéria tem como portão de entrada no organismo a via oral ou
venérea. Esta se prolifera no linfonodo satélite, e migram para os testículos,
úbere, articulações e útero. Nas fêmeas, a Brucella
tem tropismo pelo eritritol (hormônio produzido pela placenta no terço
final da gestação para sinalizar que o feto está pronto), então ela vai para a
placenta e causa lesões em glândulas uterinas e carúnculas. Essas lesões
provocam endometrite ulcerativa e aborto. Nos machos, a bactéria tem tropismo
por hormônios masculinos, como a testosterona, então esta vai para os
testículos e causa lesões, que levam a orquite, podendo causar até a
infertilidade. A Brucella também
pode
causar danos às articulações, onde causa bursite e artrite
O AGENTE ETIOLÓGICO
Brucelose
em humanos é predominantemente causada por quatro espécies diferentes de
bactérias Brucella: Brucella melitensis
(cabras, ovelhas, camelos), Brucella suis
(suínos), Brucella abortus (vacas,
búfalos, alces, camelos, iaques) e Brucella
canis (cães). Apesar de todas estas espécies podem causar brucelose humana,
Brucella melitensis é a mais
prevalente em todo o mundo, e isso é sentido como fazer com que os casos mais
graves de tuberculose.
Brucella melitensis
é uma bactéria patogênica cocobacilar gram-negativa da família Brucellaceae,
imóvel, intracelular, não-esporuladora, aeróbica (mas precisam de 5 a 10% de
CO2 para crescerem bem). Crescem em 2 a 3 dias em cultivo enriquecido a 37°C.
Podem ser lisos ou enrugados dependendo da presença de polissacarídeo O na
membrana. São catalase, oxidase e ureasepositivas. Reduzem nitratos a nitritos
e são nutricionalmente exigentes.
A
Brucella melitensis pode ser
transmitida por moscas, por contato direto com o gado infectado, por consumo de
laticínios não-pasteurizados ou de carne mal passada ou por aerossóis infectados.
Depois
do nascimento ou de aborto a bactéria persiste no útero, placenta e líquidos
pós-parto em altas quantidades, sendo muito infecciosos. Quando recém-nascidos
convivem com adultos, é comum que os primeiros casos sejam acompanhados de um
surto de brucelose para a maioria do rebanho.
SINTOMAS
Alguns dos sintomas da Brucelose são:
·
Febre
·
Cansaço
corporal
·
Dor
·
Enfraquecimento das articulações
·
Calafrios
·
Sudorese
·
Fraqueza
no corpo em geral.
Além
de a longo prazo pode causar: encefalite, meningite, endocardite, artrites e
epididimiorquite. Já nos animais, os principais indicativos da doença são:
abortamento, principalmente a partir do sexto mês de gestação, nascimento de
bezerros fracos, retenção de placenta, corrimento vaginal, inflamação das
articulações e inflamação dos testículos.
TRATAMENTO
O clínico geral, ele
solicitará exames de cultura (para isolamento da bactéria no sangue) de
amostras de sangue (hemograma) e de tecidos biopsiados para poder diagnosticar
a doença, também a sorologia que detecta anticorpos específicos, além da
avaliação clínica criteriosa do paciente. Contudo, a análise de cultura pode
demorar, pois seu crescimento é lento para gerar quantidades suficientes para
análise.
O tratamento deve
ser iniciado assim que a doença é diagnosticada. O médico indicará antibióticos
para tratamento, realizado durante 2 meses, e só depois deste período é que o
paciente se livrará completamente da bactéria da doença. Pacientes que seguem a
risca o tratamento com medicamentos, geralmente têm uma excelente resposta de
cura. Porém, em caso do reaparecimento da doença, o tratamento deve ser
repetido. O tratamento se dá a partir da
associação de antibióticos (tetraciclinas, rifampicina, estreptomicina e
gentamicina aminoglicosídeos ou doxiciclina) que atenuam e controlam os
sintomas da doença. Já no caso animal
existe vacinação que atua na prevenção da doença, porém não existe tratamento
para os animais já contaminados.
PREVENÇÃO
Para prevenir e aconselhável fazer exame
de todo o rebanho anualmente, abate dos animais contaminados, isolamento das
matrizes que abortarem, comprar animais somente em rebanhos (plantéis) livres
da doença. Isso porque animais com exames de sangue (sorologia) negativos,
vindos de rebanhos que têm animais infectados, têm grande chance de também
conter a doença, pasteurização do leite, cozimento prolongado da carne em
fogo alto, uso de EPIs por parte dos profissionais que manuseiam os animais,
dar o destino correto ao material orgânico contaminado e esterilizar
equipamentos.
GRAVIDEZ
A
transmissão dá bactéria, no ser humano, pode ocorrer por via transplacentária
ao feto durante a gravidez, portanto, é algo a se tomar cuidado quando da
gestação.
A Brucelose na gravidez pode
levar a interrupção da gravidez e interferências no curso normal da gravidez.
No entanto, poucos relatos tem documentado o isolamento de espécie de Brucella de
fetos humanos abortados ou prematuros humanos natimortos e das suas respectivas
placentas ou do sangue materno e lóquios materno.
BRUCELOSE NO BRASIL
No Brasil, de acordo como Sistema de
Informações Hospitalares do SUS - SIH/SUS (BRASIL, 2011a), do Ministério da
Saúde, de janeiro de 2008 a abril 2011, houve 108 (cento e oito) internações
devido à brucelose, no âmbito do SUS, sendo 13 (treze) na Região Norte, 17
(dezessete) na Região Nordeste, 34 (trinta e quatro) na Região Sudeste, 38
(trinta e oito) na Região Sul e 6 (seis) na Região Centro-Oeste. A média de
dias de internação por brucelose no Brasil, naquele período, foi de 9,5 dias.
Com relação ao número de óbitos ocorridos, foram 4 (quatro) durante este mesmo
período, sendo 1(um) óbito na Região Nordeste, 1 (um) na Região Sudeste e 2
(dois) na Região Sul do Brasil.
A brucelose humana no Brasil ainda é uma doença
de pouca visibilidade. Por ser um agravo de complicado diagnóstico, pouco se
sabe sobre a sua real situação no país. Desta maneira, supõe-se que seja
conhecida apenas a “ponta do iceberg” da brucelose humana no Brasil, ou seja, o
problema pode ser muito maior do que se tem notícia. É importante o
aprimoramento da vigilância epidemiológica acerca da doença, com o
fortalecimento, inclusive, de vigilância ativa no que se refere àquelas
espécies do gênero Brucella consideradas exóticas no Brasil. É sabido que a B.
melitensis está presente em alguns países da América do Sul. Dessa forma,
existe a possibilidade deste microrganismo adentrar o país, seja por meio de
animais vivos ou de seus subprodutos.
A
infecção causada por B. canis também pode estar sendo negligenciada. Devido ao
contato íntimo entre ser humano e cães de estimação, a B. canis difundida entre
estes animais pode ser agente de infecções em seres humanos. Portanto, faz-se
necessário investigar a ocorrência da B. melitensis e a prevalência da B. canis
no Brasil para que se possa estimar a amplitude da questão. Ressalta-se,
também, a relevância da atualização periódica dos médicos no que concerne à
visibilidade da brucelose. Muitas vezes não ocorre a suspeita clínica devido ao
despreparo dos profissionais de saúde em lidar com zoonoses.
Ademais, o estímulo ao
uso adequado das ferramentas de diagnóstico laboratorial, bem como sua
disponibilidade nos laboratórios do sistema de saúde favorecerá o diagnóstico
oportuno e correto, fator primordial para o sucesso da vigilância. A educação
em saúde, baseada na comunicação do risco, é fator chave para o controle das zoonoses.
No caso da brucelose, a educação sanitária direcionada a que não sejam
consumidos alimentos sem fiscalização pode ser eficaz. Neste caminho, a
orientação aos trabalhadores que lidam com animais para que utilizem EPIs
também é essencial. Portanto, ações de educação são importantes para a promoção
da saúde da população, pois possibilitam que as pessoas aumentem o controle
sobre os determinantes da saúde e, dessa forma, melhorem sua própria saúde. A
parceria entre instituições públicas e privadas, dos setores de saúde pública
humana e animal, parece ser o caminho para o controle e erradicação de zoonoses
como a brucelose.
VIDEO DE AUXILIO
O link abaixo é de um vídeo para auxiliar
o entendimento da doença: https://www.youtube.com/watch?v=2KOW-uA9yec
BIBLIOGRAFIA
https://ac.els-cdn.com/S1473309907702864/1-s2.0-S1473309907702864-main.pdf?_tid=9d195e12-d4e8-11e7-92b6-00000aacb35f&acdnat=1511948307_25800acf8823cade360b3a200b68a0d5
Pubicado pelo grupo Antraz: Caroline Lambet, Karine Abuquerque, Lucas da Nova e Monicke Azevedo.
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