Artigo: TEIXEIRA, P. J. Z. et al. Pneumonia associada à ventilação mecânica: impacto da multirresistência bacteriana na morbidade e mortalidade . J bras pneumol 2004, Porto alegre, v. 30, n. 6, p. 540-48, jan. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0d/jbpneu/v30n6/a09v30n6.pdf>.Acesso em: 08 set. 2017.
Grupo 2: Ágar da União
BM161
A infecção hospitalar que mais
acomete pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) é a
pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM). A cada dia de permanência em
ventilação mecânica, o risco é de 1% a 3% por dia. É determinada previamente
que o risco de desenvolver pneumonia é maior em pacientes que utilizam de
ventilação mecânica do que em pacientes não ventilados, sendo por isso o
enfoque do estudo.
Quando causada por microrganismos
multirresistentes, observa-se a PAVM como importante preditor de mortalidade,
com um percentual que pode chegar a 70%. Como as UTIs são considerados
epicentros de resistência bacteriana, nota-se um uso abusivo de antimicrobianos
que pode ajudar determinados microrganismos a adquirirem maior resistência.
Sendo o UTI um local com grande
incidência de pessoas com doenças graves que passam por diversas técnicas
invasivas diariamente, o risco de contrair uma infecção por bactérias
multirresistentes aumenta consideravelmente. Sendo assim, tendo em vista que a
resistência bacteriana é um fator importante no aumento dos índices de
mortalidade dos pacientes em estado crítico, objetivou-se nesse trabalho a
determinação do impacto dessa multirresistência na mórbida e mortalidade dos
pacientes que desenvolveram PAVM.
Como
métodos,
primeiramente foram
estudados os prontuários dos pacientes que tiveram o diagnóstico de Pneumonia
associada a ventilação mecânica (PAVM) em um hospital universitário com 1.700
leitos num período de 40 meses consecutivos. Antes dos estudos começarem foi
especificado que cada paciente participaria apenas uma vez do estudo e apenas
utilizando o seu primeiro quadro de pneumonia. O estudo teve aprovação do
comitê de ética em pesquisa e não precisou e obtenção de consentimento
informado.
Apenas casos bem avaliados e examinados de
PAVM foram considerados, já que sem exames rigorosos pode ser que o resultado
da pesquisa seja mascarado e longe do exato. Além dos exames severos, foram
coletados no momento da admissão do paciente na UTI dados para colaborar com um
resultado mais limpo, indicando fatores essenciais para serem levados em conta,
como a idade, sexo, presença de fatores que indicassem a imunossupressão, lúpus
eritematoso sistêmico, etc. E também coletaram-se dados referente a cirurgias
anteriores e a utilização de qualquer antibiótico que possa afetar na
pneumonia.
Para uso prático de
antimicrobianos, usou-se um betalactamico associado a um aminoglicosídeo com
ação anti-pseudomonas e quando se suspeitava de Staphylococcus Aureus a vancomicina era acrescida no tratamento.
Estes tratamentos tiveram uma durabilidade mínima de 14 dias. Após isto foram
dados os critérios para caracterizar como microrganismo multirresistente aquele
que resiste as duas ou a mais classes de antimicrobianos. Para S. aureus como agente isolado foi
considerado resistente ou não a oxicilina.
Todos os dados e valores
experimentais foram analisados estatisticamente de forma univariada. Foi
utilizado do teste de Kolmogorov-Smirnov para qualificar a regularidade dos
dados, com as significâncias baseadas nas probabilidades de Liliefors.
Variaveis continuas sem distrubuição normal foram analisados e comparadas pelo
teste de Wilcoxon-Mann-Wthitney. Variaveis alocadas em categorias foram
comparadas usando-se
o teste de Fischer. E a análise foi processada utilizando-se o software
Statistical Package for Social Science.
A partir disso observou-se que a PAVM foi desenvolvida por 91 pacientes, que
formam divididos (em dois grupos) quanto os microrganismos causadores. Os
agentes do primeiro grupo foram microrganismos multirresistentes à
antibioticoterapia, geradores de 75 episódios (representadores de 82,4% dos
casos). O segundo grupo teve microrganismos sensíveis como causadores de 16
episódios (ou 17,6% dos casos). No entanto, não houve diferenças estatísticas
entre os grupos em relação às características clínico-epidemiológicas, como
idade média, sexo, índices de gravidade da doença, estado imunológico e
procedência (paciente cirúrgico ou clínico).
Dos 91 episódios, em 84,6% (77) dos
casos isolou-se apenas um microrganismo. Destes, a bactéria mais encontrada foi
Staphylococcus aureus (responsável
por 25 episódios ou 27,5% deles, onde 20 (80,0%) eram resistentes à oxacilina)
e Pseudomonas aeruginosa, a segunda
mais frequente (causadora de 17,6% (16) dos episódios, sendo 56,2% (9) cepas
multirresistentes). A Acinetobacter
baumanii foi isolada em 8 episódios (8,8%, onde 7 cepas ou 87,5% foram multirresistentes)
e em outros 8 episódios foram isolados demais bacilos gram-negativos não
fermentadores (8,8%, onde também 7 cepas ou 87,5% eram multirresistentes.
Enquanto,
em 15,4% (14) dos episódios foram gerados por mais de um microrganismo foi isolado,
onde ao menos um era multirresistente. No total, 107 bactérias foram isoladas
destes pacientes, onde 74 (69,2%) cepas eram gram-positivas e 33 (30,8%) cepas
eram gram-negativas. Além disso, 85 cepas (79,4%) possuíam multirresistência.
A PAVM de início recente foi
desenvolvida com até 5 dias de ventilação mecânica por 33 pacientes (36,3%),
dos quais, 25 casos (75,6%) foram gerados por microrganismos multirresistentes.
Por outro lado, a PAVM de início tardio foi desenvolvida após o 5º dia por 58
pacientes (63,7%), sendo 50 episódios (86,2%) causados por microrganismos
multirresistentes.
A PAVM causada por microrganismos
multirresistentes não diferiu estatisticamente da PAVM causada por
microrganismos sensíveis quanto ao tempo de ventilação mecânica, tempo de
internação em UTI e tempo de internação total. Apesar de todos os pacientes
terem recebido tratamento antimicrobiano empírico, o esquema de tratamento foi
inadequado em 42 episódios (56%) de pneumonia causada por microrganismos
multirresistentes e em apenas 4 episódios (25%) de pneumonia causada por
microrganismos sensíveis.
O tempo de internação hospitalar
prévia ao episódio de PAVM e o tempo de internação em UTI prévio ao episódio de
PAVM não diferiram, estatisticamente significativo, entre os quadros que
receberam alta hospitalar e os que evoluíram para óbito. Este ocorreu em 46
pacientes (61,3%) no grupo de microrganismos multirresistentes e somente em 4
pacientes (25%) no grupo de microrganismos sensíveis.
Para que haja um maior interpretação dos
resultados obtidos, se faz necessária a revisão de alguns métodos utilizados. Antes
de tudo deve-se ressaltar que apesar da falta de cultura quantitativa para o
processamento de amostras, o grupo estudado retrata a realidade das UTIs, onde
o diagnóstico é feito de forma clínica e a identificação dos agentes é feita de
forma qualitativa. O que influência nesse diagnóstico são os métodos de coleta
os quais devem ser feito de maneira não invasiva, no entanto é preciso de mais
dados confiáveis e precisos para mostrar a melhor eficiência dos métodos
invasivos do diagnóstico de PAVM.
Apesar disso
estudos mostraram que há uma redução da mortalidade dos pacientes tratados
pelos resultados dos métodos invasivos. Em segundo lugar, não se pode descartar
a possibilidade de ter ocorrido PAVM no infiltrado pulmonar, mesmo que os
parâmetros clínicos e laboratoriais tenham sido rigorosos. E por último, o
tamanho da amostra e o predomínio de pacientes com multirresistência já explicam
o índice de mortalidade do grupo estudado, uma vez que as características entre
os dois grupos não foram diferentes.
Os
autores do artigo, encontraram Acinetobacter
Baumannii (37,1%), Pseudomonas
Aeruginosa (17,7%) e S. Aureus
resistentes ao antibiótico oxacilina (16,1%), como principais agentes
causadores da pneumonia. A P. Aeruginosa
foi relatada por um programa chamado Sentry o que mais demonstrou resistência à
maioria dos antibióticos testados, enquanto que no estudo, a espécie foi o
segundo agente mais predominante e 15,9% deles foram considerados
multirresistentes. O A. Baumannii
isolado em 8 pacientes, se encontrou resistente em 7 deles. A Stenotrophomonas Maltophilia foi isolada
em pouquíssimos pacientes, mas foi analisada por ter sido identificada como
causa de infecção respiratória adquirida em hospitais, especialmente em
pacientes transplantados e com neoplasias. Essa bactéria é resistente a muitos
antibióticos que são usados normalmente em tratamentos monitorados
hospitalares.
Medidas
gerais de controle tais como lavar as mãos, identificação de pacientes
colonizados e uso de precauções de contato, ainda que negligenciadas, possuem o
objetivo de evitar a disseminação de microrganismos através dos profissionais
de saúde e visitantes. A equipe assistente tende a não modificar tratamento de
pacientes frente à melhora apresentada por eles e assim fomenta a emergência
microrganismos resistentes, pois quanto maior o tempo de exposição a um
antimicrobiano, maior a chance de colonizar e infeccionar por meio destes.
Combes
et al. demonstrou que 48% de PAVM de origem polimicrobiana, não apresentavam
diferenças em mobilidade e mortalidade.
Trouillet
et al. identificaram três variáveis associadas com maior chance de
desenvolvimento de PAVM por microrganismos multirresistentes: duração da
ventilação mecânica, uso prévio de antibiótico e uso prévio de antibiótico de
largo espectro. Porém, no estudo em particular, o tempo de ventilação e
internação foram mais prolongados em pacientes que desenvolveram pneumonia por
bactérias sensíveis. Também não foi observada relação com uso prévio de
antibióticos, fato esse, pode estar relacionada com o número de casos estudados
e a predominância de bactérias multirresistentes.
Dados
mostraram que pacientes com PAVM por microrganismos multirresistentes obtiveram
maior mortalidade, por ocorrer maior número de tratamentos inadequados nesses
pacientes, possuindo número maior até que pneumonia desenvolvida tardiamente
por outros agentes.
Logo,
foi concluído nesse artigo, que a multirresistência bacteriana tem se associado
a uma maior mortalidade. Sendo assim, muito importante a supervisão de
tratamentos com antibióticos, já que as bactérias podem modificar seus
mecanismos de resistência em um paciente em diferentes momentos de tratamento.
A prevenção é bastante simplória, é necessária instalação de métodos de
profilaxia, como lavar as mãos.