O corpo humano hospeda uma vasta
população de microrganismos, incluindo grandes populações de bactérias e
fungos, na pele e nas membranas mucosas que revestem a cavidade oral, as
vísceras e os sistemas excretor e reprodutor. Na maioria das vezes, esses microrganismos
vivem sobre ou dentro do nosso corpo de forma benéfica, sendo inclusive
necessários para a manutenção de uma boa saúde. Microrganismos denominados
patógenos invadem, infectam e causam danos ao corpo humano. Os patógenos
utilizam estruturas especializadas de ligação, fatores de crescimento, enzimas
e toxinas para ter acesso e danificar os tecidos do hospedeiro.
Em suas atividades diárias normais, o
corpo humano está exposto a inúmeros microrganismos presentes no ambiente. Além
disso, centenas de espécies e incontáveis células microbianas individuais,
coletivamente referidas como a microbiota normal, crescem sobre ou no interior
do corpo humano. Este é o microbioma humano, a soma total de todos os
microrganismos que vivem sobre ou no interior do corpo humano. A microbiota
contribui para a saúde e o bem-estar do hospedeiro por meio da geração de
produtos microbianos e inibindo o crescimento de microrganismos perigosos. Em
contrapartida, o hospedeiro disponibiliza diversos microambientes que permitem
o crescimento microbiano. A microbiota normal é, inicialmente, introduzida
a seu hospedeiro durante o nascimento.
Microbiotas da pele
Um ser
humano adulto normal apresenta cerca de 2m2 de pele, que varia
acentuadamente quanto à composição química e ao teor de umidade. A pele úmida é separada por apenas alguns
centímetros de microambientes secos, como os antebraços e as palmas das mãos
por exemplo. A microbiota da pele vem sendo estudada por métodos de ecologia
molecular que empregam sequenciamento gênico comparativo do RNAr.
Microrganismos eucarióticos também estão presentes na pele. Espécies de Malassezia são os fungos mais comumente
encontrados na pele, e pelo menos cinco espécies dessa levedura são geralmente
observadas em indivíduos saudáveis. Quando o hospedeiro apresenta menor
resistência, como no caso de pacientes com HIV/Aids, ou naqueles indivíduos em
que a microbiota normal está comprometida, Candida
e outros fungos também podem colonizar, causando graves infecções de pele.
Microbiota da cavidade oral
A cavidade oral é um hábitat
microbiano complexo e heterogêneo. Existem diversos microambientes diferentes
na cavidade oral que podem suportar uma ampla diversidade microbiana.
Microambiente
Oral
A saliva contém nutrientes microbianos, contudo não é um meio de cultura
especialmente adequado, uma vez que os nutrientes estão presentes em baixas
concentrações e a saliva possui substâncias antibacterianas. Apesar da
atividade antibacteriana dessas substâncias, a presença de partículas de
alimentos e fragmentos celulares propicia altas concentrações de nutrientes nas
superfícies próximas, como dentes e gengivas, criando condições favoráveis ao
intenso crescimento microbiano local, ao dano tecidual e à doença.
O dente consiste em uma matriz mineral de cristais de fosfato de cálcio
(esmalte), que envolve os tecidos vivos do dente (dentina e polpa). As
bactérias encontradas na cavidade oral são predominantemente anaeróbias
aerotolerantes, como estreptococos e lactobacilos, e alguns aeróbios.
Microbiota
Oral
A maioria desses microrganismos possui
metabolismo aeróbio facultativo, mas alguns, como Bacteroidetes, são
obrigatoriamente anaeróbios, e outros possuem ainda metabolismo aeróbio, como
os gêneros Neisseria, Acinetobacter e Moraxella no filo
Proteobacteria. Os gêneros mais abundantes estão entre os Firmicutes; Veillonella parvula, um anaeróbio
obrigatório, é a única espécie mais abundante, e Streptococcus é o gênero mais abundante na boca, compreendendo
cerca de 25% das bactérias encontradas em alguns indivíduos.
Microbiota no trato gastrintestinal
O trato gastrintestinal dos seres humanos compreende o estômago,
intestino delgado e intestino grosso. O trato gastrintestinal é responsável
pela digestão dos alimentos e absorção de nutrientes, e muitos nutrientes
importantes são produzidos pela microbiota endógena.
Estômago
Uma vez que os fluidos estomacais são altamente ácidos (pH 2,
aproximadamente), o estômago é uma barreira química à entrada de microrganismos
no trato gastrintestinal. Contudo, os microrganismos conseguem colonizar este
ambiente aparentemente hostil. A população microbiana estomacal consiste em
diversos táxons bacterianos diferentes. Cada indivíduo apresenta populações
únicas, porém todos contêm espécies de bactérias gram-positivas, bem como de
Proteobacteria, Bacteroidetes, Actinobacteria e Fusobacteria.
Intestino
delgado
O intestino delgado possui dois ambientes distintos, o duodeno e o íleo,
que são conectados pelo jejuno. O duodeno, adjacente ao estômago, é bastante
ácido, e sua microbiota normal assemelha-se àquela encontrada no estômago. Do
duodeno ao íleo, o pH torna-se gradativamente menos ácido, havendo um aumento
no número de bactérias.
Intestino
grosso
O íleo encerra-se no ceco, a porção de conexão ao intestino grosso. O
colo corresponde ao restante do intestino grosso. No colo, há uma enorme
quantidade de procariotos. O colo é essencialmente um frasco de fermentação in
vivo; com a presença de muitas bactérias, as quais utilizam os nutrientes derivados
da digestão dos alimentos. Organismos aeróbios facultativos, como Escherichia coli, estão presentes,
embora em menor número do que outras bactérias; a contagem total de aeróbios
facultativos é inferior a 107/grama de conteúdo intestinal.
Fonte: MADIGAN, 2016, p. 710 |
Os patógenos podem entrar no
hospedeiro através de várias vias denominadas de portas de entrada.
As
principais portas de entradas são: pele, membranas mucosas, via parenteral,
placenta. A pele íntegra é impermeável para a maioria dos microrganismos, porém
alguns microrganismos vão obter acesso ao corpo através de aberturas na pele, como
os folículos pilosos e os ductos das glândulas sudoríparas.
- Membranas mucosas: Muitos microrganismos obtêm acesso ao corpo do hospedeiro penetrando pelas membranas mucosas que revestem o trato respiratório, gastrintestinal, geniturinário e conjuntivo (adenovírus, estafilococos).
- O trato respiratório é a porta de entrada mais fácil e mais frequentemente utilizada pelos microrganismos infecciosos. As principais doenças que são contraídas comumente pelo trato respiratório incluem o resfriado comum, a pneumonia, a tuberculose, a influenza, o sarampo, micoses sistêmicas etc.
Fonte: MADIGAN, 2016, p. 712 |
- Os microrganismos também podem obter acesso ao trato gastrintestinal através dos alimentos e água contaminados. Rota de entrada para vários patógenos importantes que causam lesões locais ou sistêmicas, transmitidos por via sexual (sífilis, CMV)
- Via parenteral: Os microrganismos obtêm acesso ao corpo do hospedeiro por meio da via parenteral, através da deposição direta nos tecidos por meio de punções, injeções, ferimentos e cirurgias.
- Placenta: Infecções congênitas atingem o feto via placenta. Ex. sífilis, vírus da rubéola, HIV.
Um patógeno é
um organismo que vive sobre ou dentro de um hospedeiro e que pode vir a causar
doenças que podem prejudicar funções do hospedeiro. Cada patógeno possui
propriedades únicas que contribuem para sua patogenicidade. A virulência está
relacionada com a patogenicidade, que é a capacidade de um patógeno provocar
doenças. Ela é resultado de uma série de interações entre o patógeno e o
hospedeiro, sendo influenciada por alterações que ocorrem no hospedeiro, no
meio e no próprio patógeno.
Essa virulência
pode ser medida em experimentos da dose letal50 (DL50),
onde se descobre o número de células desse agente que é capaz de matar 50% dos
animais do grupo teste. Quando um patógeno é altamente virulento, há uma
pequena variação no número de células que são necessárias para matar 100% da
população, quando se compara aos 50%.
Normalmente,
patógenos que são mantidos em meios de cultura em laboratórios sofrem uma perda
parcial ou completa de sua virulência, sendo chamado de atenuação, e estas
linhagens que não mais são virulentas ou reduziram sua virulência são
denominadas atenuadas. Essa atenuação pode ocorrer porque mutantes não
virulentos ou pouco virulentos crescem mais rápido do que os virulentos em meio
de cultura, já que nesse meio, sua capacidade de causar alguma doença não
apresenta vantagem seletiva.
Caso haja
essa linhagem atenuada seja reinoculada em organismos vivos, ela pode vir ou
não a recuperar sua virulência, sendo muitos os casos onde não há recuperação
da mesma. Essas linhagens atenuadas são muito importantes para a produção de
vacinas, como por exemplo as vacinas contra o sarampo e a rubéola, que fazem
uso de vírus atenuados.
Fonte: MADIGAN, 2016, p. 714 |
Quando ocorre a entrada do micro-organismo nos tecidos, esses podem se multiplicar e colonizar o tecido infectado. Esse crescimento é afetado pela disponibilidade dos nutrientes, visto que nem todas as vitaminas e fatores de crescimento estão disponíveis a todo momento.
Após a entrada inicial, alguns
patógenos permanecem no local da infecção; outros, podem penetrar nos vasos
linfáticos ou nos vasos sanguíneos. Se o patógeno não for contido pelo sistema
imune, a disseminação do patógeno pode resultar em infecção generalizada, com
micro-organismos crescendo em diversos tecidos, causando diversos prejuízos
para o hospedeiro.
Diversos fatores contribuem
para a suscetibilidade do hospedeiro à infecção e à doenças.
· A idade é
um fator importante. As doenças infecciosas são mais comuns em crianças e
idosos. Quadros como microbiota em desenvolvimento e sistema imune com
respostas menos eficazes contribuem para esse fato.
· O estresse pode
predispor um indivíduo saudável à doenças. Os hormônios produzidos sob estresse
podem inibir as respostas imunes normais.
· A dieta pobre
em proteínas e calorias alteram a microbiota normal, dando mais espaço para o
desenvolvimento de patógenos. O consumo de alimentos contaminados também aumenta
as chances de infecção.
· A
resistência do hospedeiro pode ser comprometida por fármacos, tabagismo,
alcoolismo, falta de sono, má nutrição e etc., fazendo com que o indivíduo
esteja mais suscetível à infecções.
Existem, muitas classes de
micro-organismos. Estes podem ser benéficos ou prejudiciais ao homem. Assim, é
de muita importância que se cuide daqueles que ajudam, a microbiota, e que se
tome o devido cuidado, observando os fatores de risco, para que as infecções
sejam evitadas.
Referência bibliográfica:
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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