quarta-feira, 26 de abril de 2017

Micro-organismos e saúde

    O corpo humano hospeda uma vasta população de microrganismos, incluindo grandes populações de bactérias e fungos, na pele e nas membranas mucosas que revestem a cavidade oral, as vísceras e os sistemas excretor e reprodutor. Na maioria das vezes, esses microrganismos vivem sobre ou dentro do nosso corpo de forma benéfica, sendo inclusive necessários para a manutenção de uma boa saúde. Microrganismos denominados patógenos invadem, infectam e causam danos ao corpo humano. Os patógenos utilizam estruturas especializadas de ligação, fatores de crescimento, enzimas e toxinas para ter acesso e danificar os tecidos do hospedeiro.
    Em suas atividades diárias normais, o corpo humano está exposto a inúmeros microrganismos presentes no ambiente. Além disso, centenas de espécies e incontáveis células microbianas individuais, coletivamente referidas como a microbiota normal, crescem sobre ou no interior do corpo humano. Este é o microbioma humano, a soma total de todos os microrganismos que vivem sobre ou no interior do corpo humano. A microbiota contribui para a saúde e o bem-estar do hospedeiro por meio da geração de produtos microbianos e inibindo o crescimento de microrganismos perigosos. Em contrapartida, o hospedeiro disponibiliza diversos microambientes que permitem o crescimento microbiano. A microbiota normal é, inicialmente, introduzida a seu hospedeiro durante o nascimento.

Microbiotas da pele

     Um ser humano adulto normal apresenta cerca de 2m2 de pele, que varia acentuadamente quanto à composição química e ao teor de umidade.  A pele úmida é separada por apenas alguns centímetros de microambientes secos, como os antebraços e as palmas das mãos por exemplo. A microbiota da pele vem sendo estudada por métodos de ecologia molecular que empregam sequenciamento gênico comparativo do RNAr.
   Microrganismos eucarióticos também estão presentes na pele. Espécies de Malassezia são os fungos mais comumente encontrados na pele, e pelo menos cinco espécies dessa levedura são geralmente observadas em indivíduos saudáveis. Quando o hospedeiro apresenta menor resistência, como no caso de pacientes com HIV/Aids, ou naqueles indivíduos em que a microbiota normal está comprometida, Candida e outros fungos também podem colonizar, causando graves infecções de pele.

Microbiota da cavidade oral

  A cavidade oral é um hábitat microbiano complexo e heterogêneo. Existem diversos microambientes diferentes na cavidade oral que podem suportar uma ampla diversidade microbiana.

Microambiente Oral

   A saliva contém nutrientes microbianos, contudo não é um meio de cultura especialmente adequado, uma vez que os nutrientes estão presentes em baixas concentrações e a saliva possui substâncias antibacterianas. Apesar da atividade antibacteriana dessas substâncias, a presença de partículas de alimentos e fragmentos celulares propicia altas concentrações de nutrientes nas superfícies próximas, como dentes e gengivas, criando condições favoráveis ao intenso crescimento microbiano local, ao dano tecidual e à doença.
   O dente consiste em uma matriz mineral de cristais de fosfato de cálcio (esmalte), que envolve os tecidos vivos do dente (dentina e polpa). As bactérias encontradas na cavidade oral são predominantemente anaeróbias aerotolerantes, como estreptococos e lactobacilos, e alguns aeróbios.

Microbiota Oral

   A maioria desses microrganismos possui metabolismo aeróbio facultativo, mas alguns, como Bacteroidetes, são obrigatoriamente anaeróbios, e outros possuem ainda metabolismo aeróbio, como os gêneros Neisseria, Acinetobacter e Moraxella no filo Proteobacteria. Os gêneros mais abundantes estão entre os Firmicutes; Veillonella parvula, um anaeróbio obrigatório, é a única espécie mais abundante, e Streptococcus é o gênero mais abundante na boca, compreendendo cerca de 25% das bactérias encontradas em alguns indivíduos.

Microbiota no trato gastrintestinal

   O trato gastrintestinal dos seres humanos compreende o estômago, intestino delgado e intestino grosso. O trato gastrintestinal é responsável pela digestão dos alimentos e absorção de nutrientes, e muitos nutrientes importantes são produzidos pela microbiota endógena.

Estômago
   Uma vez que os fluidos estomacais são altamente ácidos (pH 2, aproximadamente), o estômago é uma barreira química à entrada de microrganismos no trato gastrintestinal. Contudo, os microrganismos conseguem colonizar este ambiente aparentemente hostil. A população microbiana estomacal consiste em diversos táxons bacterianos diferentes. Cada indivíduo apresenta populações únicas, porém todos contêm espécies de bactérias gram-positivas, bem como de Proteobacteria, Bacteroidetes, Actinobacteria e Fusobacteria.

Intestino delgado
   O intestino delgado possui dois ambientes distintos, o duodeno e o íleo, que são conectados pelo jejuno. O duodeno, adjacente ao estômago, é bastante ácido, e sua microbiota normal assemelha-se àquela encontrada no estômago. Do duodeno ao íleo, o pH torna-se gradativamente menos ácido, havendo um aumento no número de bactérias.

Intestino grosso
   O íleo encerra-se no ceco, a porção de conexão ao intestino grosso. O colo corresponde ao restante do intestino grosso. No colo, há uma enorme quantidade de procariotos. O colo é essencialmente um frasco de fermentação in vivo; com a presença de muitas bactérias, as quais utilizam os nutrientes derivados da digestão dos alimentos. Organismos aeróbios facultativos, como Escherichia coli, estão presentes, embora em menor número do que outras bactérias; a contagem total de aeróbios facultativos é inferior a 107/grama de conteúdo intestinal.

Fonte: MADIGAN, 2016, p. 710

Os patógenos podem entrar no hospedeiro através de várias vias denominadas de portas de entrada.

    As principais portas de entradas são: pele, membranas mucosas, via parenteral, placenta. A pele íntegra é impermeável para a maioria dos microrganismos, porém alguns microrganismos vão obter acesso ao corpo através de aberturas na pele, como os folículos pilosos e os ductos das glândulas sudoríparas.

  •   Membranas mucosas:  Muitos microrganismos obtêm acesso ao corpo do hospedeiro penetrando pelas membranas mucosas que revestem o trato respiratório, gastrintestinal, geniturinário e conjuntivo (adenovírus, estafilococos).  
  •  O trato respiratório é a porta de entrada mais fácil e mais frequentemente utilizada pelos microrganismos infecciosos. As principais doenças que são contraídas comumente pelo trato respiratório  incluem o resfriado comum, a pneumonia, a tuberculose, a influenza, o sarampo, micoses sistêmicas etc.  

                               Fonte: MADIGAN, 2016, p. 712                                      
  • Os microrganismos também podem obter acesso ao trato gastrintestinal através dos alimentos e água contaminados.  Rota de entrada para vários patógenos importantes que causam lesões locais ou sistêmicas, transmitidos por via sexual (sífilis, CMV)
  •  Via parenteral: Os microrganismos obtêm acesso ao corpo do hospedeiro por meio da via parenteral, através da deposição direta nos tecidos por meio de punções, injeções, ferimentos e cirurgias.
  •  Placenta: Infecções congênitas atingem o feto via placenta. Ex. sífilis, vírus da rubéola, HIV.

       Um patógeno é um organismo que vive sobre ou dentro de um hospedeiro e que pode vir a causar doenças que podem prejudicar funções do hospedeiro. Cada patógeno possui propriedades únicas que contribuem para sua patogenicidade. A virulência está relacionada com a patogenicidade, que é a capacidade de um patógeno provocar doenças. Ela é resultado de uma série de interações entre o patógeno e o hospedeiro, sendo influenciada por alterações que ocorrem no hospedeiro, no meio e no próprio patógeno.
       Essa virulência pode ser medida em experimentos da dose letal50 (DL50), onde se descobre o número de células desse agente que é capaz de matar 50% dos animais do grupo teste. Quando um patógeno é altamente virulento, há uma pequena variação no número de células que são necessárias para matar 100% da população, quando se compara aos 50%.
     Normalmente, patógenos que são mantidos em meios de cultura em laboratórios sofrem uma perda parcial ou completa de sua virulência, sendo chamado de atenuação, e estas linhagens que não mais são virulentas ou reduziram sua virulência são denominadas atenuadas. Essa atenuação pode ocorrer porque mutantes não virulentos ou pouco virulentos crescem mais rápido do que os virulentos em meio de cultura, já que nesse meio, sua capacidade de causar alguma doença não apresenta vantagem seletiva.
       Caso haja essa linhagem atenuada seja reinoculada em organismos vivos, ela pode vir ou não a recuperar sua virulência, sendo muitos os casos onde não há recuperação da mesma. Essas linhagens atenuadas são muito importantes para a produção de vacinas, como por exemplo as vacinas contra o sarampo e a rubéola, que fazem uso de vírus atenuados.

Fonte: MADIGAN, 2016, p. 714

       Quando ocorre a entrada do micro-organismo nos tecidos, esses podem se multiplicar e colonizar o tecido infectad
o. Esse crescimento é afetado pela disponibilidade dos nutrientes, visto que nem todas as vitaminas e fatores de crescimento estão disponíveis a todo momento.
     Após a entrada inicial, alguns patógenos permanecem no local da infecção; outros, podem penetrar nos vasos linfáticos ou nos vasos sanguíneos. Se o patógeno não for contido pelo sistema imune, a disseminação do patógeno pode resultar em infecção generalizada, com micro-organismos crescendo em diversos tecidos, causando diversos prejuízos para o hospedeiro.

     Diversos fatores contribuem para a suscetibilidade do hospedeiro à infecção e à doenças.
·  A idade é um fator importante. As doenças infecciosas são mais comuns em crianças e idosos. Quadros como microbiota em desenvolvimento e sistema imune com respostas menos eficazes contribuem para esse fato.
·  O estresse pode predispor um indivíduo saudável à doenças. Os hormônios produzidos sob estresse podem inibir as respostas imunes normais.
·  dieta pobre em proteínas e calorias alteram a microbiota normal, dando mais espaço para o desenvolvimento de patógenos. O consumo de alimentos contaminados também aumenta as chances de infecção.
·  A resistência do hospedeiro pode ser comprometida por fármacos, tabagismo, alcoolismo, falta de sono, má nutrição e etc., fazendo com que o indivíduo esteja mais suscetível à infecções.

       Existem, muitas classes de micro-organismos. Estes podem ser benéficos ou prejudiciais ao homem. Assim, é de muita importância que se cuide daqueles que ajudam, a microbiota, e que se tome o devido cuidado, observando os fatores de risco, para que as infecções sejam evitadas.

Referência bibliográfica:

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.


Grupo Fenolftaleina
Beatriz, Ighor, Letícia e Marcela
BM 161

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